Que fazes do tempo que não conduzes?
O que fazer do tempo que não te conduz?
O que fazer?
Que fazes
Das fases
Das faces
Das passagens
E paisagens
Da vida?
Tua vida é um relógio-plástico.
Um relógio-de-borracha-derretida de ponteiros tortos e imprecisos
De Dalí.
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Culpa
O dedo em riste
Na minha cara
Me condenava
Pelos pecados
Que cometi
O dedo em riste
Na minha cara
Me apontava
Todas as falhas
Que tive aqui
O dedo em riste
Na minha cara
Que me culpava
Pelas ciladas
Em que caí
O dedo em riste
Já não existe
Pois tu partiste
E eu renasci.
Na minha cara
Me condenava
Pelos pecados
Que cometi
O dedo em riste
Na minha cara
Me apontava
Todas as falhas
Que tive aqui
O dedo em riste
Na minha cara
Que me culpava
Pelas ciladas
Em que caí
O dedo em riste
Já não existe
Pois tu partiste
E eu renasci.
Confissão
Minha vida não comporta tua ausência
Em descompasso, trôpego, caminho
Como um doido a blasfemar com eloquência
Descontrolado, bêbado, sozinho.
Minhas mãos, que não suportam o vazio
Nem a leveza, límpida, do vento,
Sem as tuas entre as minhas é baldio
Qualquer esforço, máximo, que tento.
Meu coração não pulsa sem teu sangue
E meus olhos se apagam com frequência
E me dissolvo, mínimo, exangue.
Minha vida não comporta tua ausência.
Em descompasso, trôpego, caminho
Como um doido a blasfemar com eloquência
Descontrolado, bêbado, sozinho.
Minhas mãos, que não suportam o vazio
Nem a leveza, límpida, do vento,
Sem as tuas entre as minhas é baldio
Qualquer esforço, máximo, que tento.
Meu coração não pulsa sem teu sangue
E meus olhos se apagam com frequência
E me dissolvo, mínimo, exangue.
Minha vida não comporta tua ausência.
Plenitude
Um poema circular
Sem início, meio e fim
Um poema a circular
Infinito envolto em mim
Um poema-circo: lar
Da alegria e do festim.
Sem início, meio e fim
Um poema a circular
Infinito envolto em mim
Um poema-circo: lar
Da alegria e do festim.
Canção da complacência
Há um mártir bêbado na esquina
E mais um herói caído ao chão
Uma prostituta na sarjeta
E um homem-de-bem em cada vão
Há mais de um mendigo pela rua
E um bom pastor sempre a pregar
Tem uma donzela em cada alcova
E uma mãe-amada em cada lar
Um bandido solto na cidade
E um injustiçado na prisão
Uma nuvem branca lá no céu
(Poça refletida aqui no chão)
Lama, pura lama é esta vida
Onde nem o espelho é fiel:
Mostra-nos a imagem invertida
Destra por sinistra - vida ao léu.
E mais um herói caído ao chão
Uma prostituta na sarjeta
E um homem-de-bem em cada vão
Há mais de um mendigo pela rua
E um bom pastor sempre a pregar
Tem uma donzela em cada alcova
E uma mãe-amada em cada lar
Um bandido solto na cidade
E um injustiçado na prisão
Uma nuvem branca lá no céu
(Poça refletida aqui no chão)
Lama, pura lama é esta vida
Onde nem o espelho é fiel:
Mostra-nos a imagem invertida
Destra por sinistra - vida ao léu.
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
"Lunaris"
Em parceria com Silvia Schmidt
Noite de lua cheia, cheia, cheia...
Tomei-te a mão e fomos pelo bosque.
Depois, sentado à beira de um quiosque,
Beijei-te a boca e murmuraste, alheia:
"Teu beijo é um sonho (um sonho que me enleia).
Que em teu abraço eu durma e que me enrosque!
Que não me engane o sonho e não me embosque
Qualquer suspeita - qual veneno em veia!"
E adormeceste no meu colo. A lua
Varreu a noite em busca da alvorada,
E ao despertares me contaste, amada:
"Sonhei-me, amado, plenamente tua,
E por teus beijos, ora confortada,
Sou tua princesa, amor...a despertada!"
Quinze anos
Para minhas filhas Marina e Juliana
Nas cores curvas de um arco-íris
Teus olhos pousam, serenamente.
Do azul do céu, do azul, contente
Retiras sonhos. Ao te sentires
No doce enlevo dos quinze anos
Como uma deusa sem embaraço
Galgando nuvens, ganhando espaço,
A fronte erguida, peitos ufanos,
Procura, filha, fiar nos sonhos
Pois que são deles que é feita a vida,
E essa busca é o viver.
Aproveitar os anos risonhos
Da juventude, minha querida:
Sonhar... criar... sempre renascer.
Redenção
Naquelas tardes mornas, pachorrentas,
Em que eu vivia assobiando em tom menor,
Em que minha vida ia do menos ao pior,
Desesperanças me seguiam, lentas.
Manhãs me despertavam, seborrentas,
E me levavam a acreditar no Mal maior
E a recitar uma oração, quase de cor,
Pedindo a Deus a morte das tormentas.
Mas, eis-me, despertado à letargia:
Apareceste e me tomaste pela mão.
Sim. Conduziste-me ao amor e à alegria
E transmutaste minha vida então:
O que era noite transformou-se em pleno dia,
O que era dor e agonia, em paixão.
Em que eu vivia assobiando em tom menor,
Em que minha vida ia do menos ao pior,
Desesperanças me seguiam, lentas.
Manhãs me despertavam, seborrentas,
E me levavam a acreditar no Mal maior
E a recitar uma oração, quase de cor,
Pedindo a Deus a morte das tormentas.
Mas, eis-me, despertado à letargia:
Apareceste e me tomaste pela mão.
Sim. Conduziste-me ao amor e à alegria
E transmutaste minha vida então:
O que era noite transformou-se em pleno dia,
O que era dor e agonia, em paixão.
Nossa desgraça
Para Álvares de Azevedo
Deu meia noite. O poeta está imerso
Num mar de ideias, procurando estratagema
Que lhe permita construir o último verso
Finalizando, pondo um ponto no poema.
A noite avança e madrugada vai adentro
E nada surge, uma ideia, um sentimento
Que dê a ele algum socorro bem no centro
Da tormentosa busca - é muito sofrimento!
E ele para, pensa e busca nos antigos
Poetas e também nos novos, seus amigos
(Ao que parece fazem poemas de cor)
Até concluir: não ter poema é bem pior
Do que um pintor sem tinta em sua aquarela
Ou que um vate sem vintém para uma vela.
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Despertar em Guernica
Guernica, Pablo, me despertou
Aos treze anos o horror da lida
Da guerra inútil. O clamor da vida,
Pasmada face me revelou:
No colo mater, o filho morto,
Antipresépio da estupidez
A luz estéril, o mar, sem porto,
De violência e insensatez
A boquiaberta cara do incréu
O rijo braço elevado ao céu
A bomba alada que estourou
Minha cabeça de adolescente
E os sonhos puros de um inocente.
Guernica, Pablo, me deflorou.
Aos treze anos o horror da lida
Da guerra inútil. O clamor da vida,
Pasmada face me revelou:
No colo mater, o filho morto,
Antipresépio da estupidez
A luz estéril, o mar, sem porto,
De violência e insensatez
A boquiaberta cara do incréu
O rijo braço elevado ao céu
A bomba alada que estourou
Minha cabeça de adolescente
E os sonhos puros de um inocente.
Guernica, Pablo, me deflorou.
Arte
Que é do Tempo a Vida, a Arte?
Que é da Vida a Arte, o Artista?
O Tempo escorre
A Vida morre
O Artista passa.
O Tempo passa
A Vida escorre
O Artista morre.
A Arte fica.
Que é da Vida a Arte, o Artista?
O Tempo escorre
A Vida morre
O Artista passa.
O Tempo passa
A Vida escorre
O Artista morre.
A Arte fica.
À merda, Morte
Quando a assombrosa foice desabar
No cepo, separando corpo e alma,
Eu quero a Caronte evitar.
E quero, meu amor, manter a calma:
Não deixe no meu bolso um centavo,
Assim ele não vai me atravessar.
Eu vou ficar à margem, como escravo
Do tempo. Esperarei você chegar.
Enquanto aguardar sua chegada
Vou desviar o Estige por ali,
Não vamos no outro lado ter morada
A nossa casa vai ser sempre aqui.
À merda a iniludível, a indesejada
A tal La Belle Dame sans Merci.
No cepo, separando corpo e alma,
Eu quero a Caronte evitar.
E quero, meu amor, manter a calma:
Não deixe no meu bolso um centavo,
Assim ele não vai me atravessar.
Eu vou ficar à margem, como escravo
Do tempo. Esperarei você chegar.
Enquanto aguardar sua chegada
Vou desviar o Estige por ali,
Não vamos no outro lado ter morada
A nossa casa vai ser sempre aqui.
À merda a iniludível, a indesejada
A tal La Belle Dame sans Merci.
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Distância
O que você está fazendo aí
Longe de mim,
Longe_________________________de_______________________mim?
Por que você não está aqui agora
Perto de mim,
Juntoaomeucorpo?
Longe de mim,
Longe_________________________de_______________________mim?
Por que você não está aqui agora
Perto de mim,
Juntoaomeucorpo?
Solaris
Em parceria com Sílvia Schmidt
O Sol com sua luminosidade
Envolve nossos corpos e dá forma
E cor e brilho. Com suavidade
Sua luz macia vem e nos transforma.
Esse astro-rei e a sua claridade
Toda magia sobre nós entorna:
Vão nossas marcas para a eternidade,
E o nosso enlace a Natureza adorna.
O seu calor, a sua energia
Nos transmutando quando raia o dia,
Nos elevando para o firmamento,
Faz que sejamos anjos namorados,
Plenos de amor, p'ra sempre interligados
Por duas asas e um só pensamento.
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Amor
Outrora, se bem me lembro...
Você se lembra? -Rimbaud.
A vida, que era um rio
Tempestuoso, passou;
O leito, assoreado
No tempo, se acomodou.
E as margens, outrora curtas,
Outrora estreitas, ficaram
Agora largas, serenas,
Formando um lago. Medraram
Imensas flores.
E sua imagem
Refletida
Ficou.
Você se lembra? -Rimbaud.
A vida, que era um rio
Tempestuoso, passou;
O leito, assoreado
No tempo, se acomodou.
E as margens, outrora curtas,
Outrora estreitas, ficaram
Agora largas, serenas,
Formando um lago. Medraram
Imensas flores.
E sua imagem
Refletida
Ficou.
Encanto
Para Manuel Bandeira
Eu faço versos como quem goza
De regozijo...contentamento...
Abre meu livro, a vida em rosa
Não dá motivo de desalento.
Meu verso corre-me pelas veias,
Deleite farto...tormento? -Não!
E se derrama por entre as teias
Sai, gota a gota, do coração.
Escorrem versos, pura alegria,
Assim dos lábios, rolando a face,
Deixando um doce sabor-poesia.
Eu faço versos como quem nasce.
Momento vermelho
Raiando o dia. A madrugada sangra.
De rubras raias o céu, lento, veste
Um horizonte. Visto desta angra
Há pouco um breu que não deixava leste
Tudo encobria. Até a alva areia
Se confundia ao mar na escuridão
Formando um muro alto, sem ameia,
Na negritude dominante então.
Mas eis que o Sol, aos poucos, se apruma:
Primeiro rubro, sem a luz dourada
Que irá fazer a areia e a branca espuma
Aparecerem como que do nada.
Mas, por enquanto, não há luz nenhuma.
Apenas raia, sangra a madrugada.
De rubras raias o céu, lento, veste
Um horizonte. Visto desta angra
Há pouco um breu que não deixava leste
Tudo encobria. Até a alva areia
Se confundia ao mar na escuridão
Formando um muro alto, sem ameia,
Na negritude dominante então.
Mas eis que o Sol, aos poucos, se apruma:
Primeiro rubro, sem a luz dourada
Que irá fazer a areia e a branca espuma
Aparecerem como que do nada.
Mas, por enquanto, não há luz nenhuma.
Apenas raia, sangra a madrugada.
Quatro sentidos
Aqui neste quarto escuro,
Totalmente escuro,
Tu és todas as mulheres do mundo
E todas elas possuem
O cheiro da tua pele
O sabor da tua boca
A sonoridade dos teus gemidos
E a suntuosa forma do teu corpo nu.
Totalmente escuro,
Tu és todas as mulheres do mundo
E todas elas possuem
O cheiro da tua pele
O sabor da tua boca
A sonoridade dos teus gemidos
E a suntuosa forma do teu corpo nu.
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
Um blues, um reggae, um soul, um rock'n roll
Alguém me dê um cavalo selvagem
Porque eu quero é fugir daqui
Então me ensinem a montar no vento
Eu não suporto esse cheiro aí
Vou cavalgar qualquer coisa que voe
Pra longe dessa merda onde caí
Fumar bastante
Muito álcool
Muita dança
Um blues, um reggae, um soul, um rock’n roll
Dançar, dançar
Girar e flutuar
Até que eu possa descobrir quem sou.
Porque eu quero é fugir daqui
Então me ensinem a montar no vento
Eu não suporto esse cheiro aí
Vou cavalgar qualquer coisa que voe
Pra longe dessa merda onde caí
Fumar bastante
Muito álcool
Muita dança
Um blues, um reggae, um soul, um rock’n roll
Dançar, dançar
Girar e flutuar
Até que eu possa descobrir quem sou.
Humano, demasiado humano
Alguém moldou a tua forma em barro puro
E com um sopro deu-te a vida e o festim
Do paraíso. Tanta luz brilhante assim
Te encantava, ignoravas o escuro.
E a tua vida num jardim calmo, sem muro,
Fluía bela como um jarro de jasmim
Nem te importavas com aquela cor carmim
Que emoldurava o fruto doce, mas impuro.
Até que um dia perguntaste: Por que não?
Por que não ter aquele fruto em minha mão
E deste modo superar meu criador?
Assim fizeste. E começaste a sentir dor.
(Mas esse gênio que te fez, essa mão-mater,
Também foi ele a modelar o teu caráter?)
E com um sopro deu-te a vida e o festim
Do paraíso. Tanta luz brilhante assim
Te encantava, ignoravas o escuro.
E a tua vida num jardim calmo, sem muro,
Fluía bela como um jarro de jasmim
Nem te importavas com aquela cor carmim
Que emoldurava o fruto doce, mas impuro.
Até que um dia perguntaste: Por que não?
Por que não ter aquele fruto em minha mão
E deste modo superar meu criador?
Assim fizeste. E começaste a sentir dor.
(Mas esse gênio que te fez, essa mão-mater,
Também foi ele a modelar o teu caráter?)
Tempos modernos
A lua
Depois de conquistada
Perdeu a compostura
E já ninguém atura
Uma serenata
Ao luar.
Depois de conquistada
Perdeu a compostura
E já ninguém atura
Uma serenata
Ao luar.
A rosa
Nesta cabana, amor, ao pé da serra,
Em que te espero pra passar a noite,
Vamos terçar, inda que o frio açoite,
Batalhas mil, deliciosa guerra
Tu vais chegar trazida pelo vento
Fresco da tarde e eu te despirei
Bem devagar, já me sentindo o rei
Desse teu corpo. E todo o sentimento
Que flui de nós inunda nosso abrigo
Como perfume. Eu vou ficar contigo
Fazendo amor até surgir a luz.
E de manhã colher, ainda orvalhada,
A rosa mais bonita da florada
E colocá-la entre teus peitos nus.
Em que te espero pra passar a noite,
Vamos terçar, inda que o frio açoite,
Batalhas mil, deliciosa guerra
Tu vais chegar trazida pelo vento
Fresco da tarde e eu te despirei
Bem devagar, já me sentindo o rei
Desse teu corpo. E todo o sentimento
Que flui de nós inunda nosso abrigo
Como perfume. Eu vou ficar contigo
Fazendo amor até surgir a luz.
E de manhã colher, ainda orvalhada,
A rosa mais bonita da florada
E colocá-la entre teus peitos nus.
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